Poeira Digital

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Saturday, October 28, 2006


Tripés, nossos amigos desconhecidos.

Vamos conhecer um pouco sobre um dos equipamentos mais importantes durante a realização das imagens. Ele forma junto com uma boa objetiva e uma câmera confiável, um dos principais instrumentos para o trabalho de captação de imagens no set de filmagens. É o tripé de câmera.

Movimentos horizontais ou verticais, panorâmicos, uniformes, lineares e contínuos, cujo ritmo mantenha-se constante, sem hesitações ou tremidos, dificilmente serão realizados se a cabeça de rotação estiver em mau funcionamento. Ou, pior ainda, se o próprio tripé não oferecer a resistência necessária para sustentar a câmera e dar estabilidade aos movimentos. O tripé não pode apresentar tremuras ou oscilações. Ainda que ínfimas e ocasionais, as menores imperfeições vão terminar inevitavelmente impressas no negativo ou gravadas no vídeo tape.

O tripé deve assegurar juntamente com a cabeça de rotação, uma grande capacidade de resistência ao wind up, que é a tendência que apresenta todo corpo em movimento a um deslocamento contrário à direção dada na panorâmica (lateral), ou no tilt (vertical). Caso o desenho do tripé seja ineficiente, quando se detém o movimento da cabeça de rotação, o tripé ira "retornar", isto é, haverá um movimento brusco no instante da imobilização do movimento (ou freada), cuja tensão será perceptível na imagem. Esta é a principal causa de uma incômoda indecisão ao início ou ao final das panorâmicas. A estrutura do tripé pode não estar oferecendo a necessária rigidez tensional para garantir a estabilidade na imagem. Se o operador da câmera estiver utilizando uma teleobjetiva com alto nível de fricção dos elementos móveis como as objetivas de tipo zoom, as dificuldades de um tripé em mau estado serão permanentes e frustrantes.

De que são feitos os tripés?

Inicialmente eram feitos de madeira, utilizando mogno, pinho claro ou choupo. Atualmente a construção de tripés emprega o alumínio e a fibra de carbono. Vamos ver cada um desses materiais.

Os adeptos do tripé construído em madeira apontam as seguintes qualidades para a escolha deste material:

Beleza - obedecendo a um desenho tradicional, os tripés de madeira oferecem a qualidade única de serem "feitos a mão", preservando um desenho tradicional e a beleza natural da madeira. Um exemplo é o tripé produzido pela RIES, cujo desenho clássico se mantém inalterado desde os anos 30.

Vibração - os defensores dos tripés em madeira afirmam que as vibrações atingem mais as estruturas metálicas, amplificando-as e as transferindo diretamente para o corpo da câmera. Os tripés de madeira absorvem as vibrações e as disseminam a sua própria estrutura, para que atinjam a câmera de forma muito menos severa.

Peso - Muitos fotógrafos afirmam que os tripés de alumínio ou de fibra de carbono são mais leves do que a madeira. Entretanto, é preciso considerar que uma estrutura em alumínio necessita de um peso equivalente às pernas de um tripé em madeira para atingir o grau de estabilidade desejada durante a operação da câmera. De fato, com todos os componentes de sua construção em metal, o tripé de alumínio torna-se muito pesado. A fibra de carbono é muito mais leve do que a madeira e o alumínio, mas o preço é muito alto. Um tripé mais barato, ou seja, com uma estrutura mais leve, será ineficiente com uma câmera pesada.

Temperatura - quando trabalhando em condições extremas, a madeira mostra uma capacidade de absorção do frio ou do calor muito menor do que o alumínio ou a fibra de carbono.

Além dessa discussão sobre as preferências do material, outros pontos precisam ser observados na escolha de um bom tripé.

Um conjunto profissional de sustentação de câmera envolve várias questões que devem ser analisadas separadamente:

Por quê três pernas?
Esta pergunta nos remete aos princípios da geometria que aprendemos na escola: "três pontos determinam um plano". Desta maneira, o tripé resume na sua estrutura simples, uma grande capacidade de criar uma área de estabilidade "permanente", não importa a distância que uma perna esteja fixada da outra e apesar das irregularidades do piso. O tripé permite a confluência de três pontos numa única base equilibrada e "sólida" o bastante para absorver a tensão e distribuir o peso igualmente.

Quantos segmentos devem ter as pernas do tripé?
Um tripé com pernas de um segmento, na verdade significa que as suas pernas possuem dois segmentos: um fixo e outro móvel. Elas são deslizantes, passando por dentro de uma braçadeira que mantém os dois segmentos unidos e móveis de forma a permitir elevar ou baixar a câmera. Um tripé com pernas de dois segmentos, na verdade está construído com três elementos: um fixo e dois retráteis/extensíveis, cada um seguro por um conjunto de duas braçadeiras em cada uma das pernas do tripé.

O que é "cabeça de fricção"?
A cabeça de fricção possui elementos de cortiça ou outro material similar. Sua desvantagem é que durante os movimentos irá apresentar sacudidas e hesitações, resultados de um comportamento desigual das superfícies de fricção. Com pouco tempo de uso os elementos perdem sua capacidade de suavizar o início do movimento e a freada ao final.

O que é cabeça de ação fluida?
A cabeça de ação fluida é a única capaz de oferecer um deslocamento suave durante a panorâmica ou tilt da câmera. De fato, o fluido pressuposto no interior das cabeças não é mais um óleo viscoso, mas é composto de uma mistura de silicone com substâncias capazes de resistir às variações de temperatura, de modo a manter inalterada a sua qualidade de elasticidade e resistência. Ao iniciar ou chegar ao final de uma panorâmica ou tilt, a tensão elástica permanece inalterada e constante. A instabilidade produzida no arranque ou o retorno da freada final serão mínimos.

O que é a esfera de nivelação?
A esfera de nivelação é o componente imprescindível de um tripé profissional. Ela fica situada no vértice das pernas, oferecendo uma superfície côncava onde a cabeça giratória será ajustada. Sua vantagem é permitir que a cabeça fique solta ainda que no tripé, de modo a permitir a nivelação da câmera paralela ao horizonte da cena nos 360º em torno do ponto onde o tripé está fixado. Nivelado o horizonte, a cabeça é travada. Sem a esfera de nivelação, a opção é soltar as pernas do tripé e faze-las deslizar para cima e para baixo até encontrar o nível do horizonte. Podemos bem imaginar o trabalho demorado e minucioso (com o longo tempo correspondente), para fotografar cada cena. As esferas de nivelação de 100 mm são o standard para os tripés utilizados em telejornalismo, documentários ou institucionais, quando o conjunto do corpo da câmera, objetiva e bateria atinge um peso até 25kg.

Para que serve o ajuste de resistência do movimento?
O ajuste de resistência modifica a resistência mecânica da cabeça no movimento de panorâmica ou no tilt. A graduação vai desde resistência inexistente até extremamente resistente. A opção por maior ou menor resistência vai depender das condições do ambiente (ventos fortes, p.ex.), peso da câmera e preferência do operador.

O que é o mecanismo de contrapeso?
É o mecanismo que possibilita opor uma resistência regulável à tendência a inclinar-se da câmera, produzida pela inércia de seu próprio peso. Trocando em miúdos: o contrapeso permite que o operador incline todo o conjunto para adiante, sem ter que fazer força contra a gravidade. Uma câmera totalmente inclinada para frente ou para trás apresenta um peso considerável. Em termos bem simples, o mecanismo de contrapeso livra o operador do peso inercial do equipamento em tomadas com inclinações de +/- 90º.

O que são "aranhas" ou "estrelas"?
Ao contrário do que se pensa, a aranha (também chamada estrela), não aumenta a resistência do tripé ao peso que tem que sustentar. Sendo assim, a aranha não acrescenta nada à estabilidade do conjunto. A finalidade da aranha é a de exclusivamente permitir abrir rapidamente as pernas do tripé sem que todo o conjunto fique "esparramado" isto é, que cada perna vá para uma direção. As aranhas de nível médio são fixadas ao meio das pernas do tripé. São indicadas para superfícies irregulares (rochas, areia, escarpas), enquanto as aranhas de base são indicadas para pisos regulares. Devemos lembrar que nem sempre todas as pernas do tripé devam ficar presas à aranha: alguns operadores soltam uma das pernas do tripé, se o nível da cabeça não puder ser feito exclusivamente com a esfera de nivelação.

Agora que vimos as características básicas de um tripé profissional, surge a pergunta: como devo fazer a seleção do equipamento apropriado para minha produção?

Vamos responder esta pergunta com outra: o quê vai gravar ou filmar?

Se você estiver produzindo um documentário, ou se o seu negócio são notícias, seu equipamento será exigido durante todos os dias da semana.Você deverá fazer constantes deslocamentos, terá que caminhar e inclusive correr por grandes distâncias com o equipamento ao ombro. Você necessita de um equipamento leve e de rápida instalação. As alturas que o tripé possa alcançar também serão muito variáveis, portanto as pernas devem apresentar mais segmentos. A cabeça de rotação também deve ser prática, permitindo a operação imediatamente. A resistência é um fator muito importante, pois se o seu trabalho exige o uso de teleobjetivas ou do zoom, o tripé deve oferecer muita estabilidade para estas condições.

Se o seu caso é trabalhar em estúdio ou interiores, um tripé de um segmento deve ser suficiente, pois outras formas de sustentação da câmera serão utilizadas (gruas, dollys). Um detalhe muito importante deve ser verificar as características do sistema de contrapeso, pois as câmeras de estúdio são maiores e mais pesadas e geralmente estão com uma série de equipamentos e acessórios acoplados: objetivas com controle remoto de zoom, visor de 5", teleprompter, etc.

Finalmente, duas observações importantes.

Nunca empregue nada mais do que água e sabão comum para limpar o seu tripé. Removedores ou solventes vão danificar irremediavelmente a linda aparência que o tratamento de fábrica deu ao seu equipamento.

Nunca transporte o tripé com as travas dos mecanismos de movimento apertadas. Tudo deve ficar completamente solto dentro do tubo de transporte. Se não for assim, a vibração não será dissipada e irá danificar todo o sistema de rotação da cabeça.

E finalmente, ao caminhar por longas distâncias, você pode amenizar o incômodo de transportar o equipamento sobre o ombro, utilizando uma alça de sustentação presa ao tripé. O tripé deve pender horizontalmente à altura de seu braço estendido inteiramente para baixo. A cabeça deve ficar para trás e as pernas unidas para adiante. Erga as pernas fazendo com que a cabeça se incline para o solo. O tripé então ficará longitudinalmente unido ao seu corpo. Desta maneira você estará fazendo com que a força da gravidade atue de forma menos contundente sobre a cabeça de rotação, que é o lado mais pesado do tripé. O esforço físico durante um longo tempo de deslocamento será, portanto, reduzido. E tendo o cuidado de manter as pernas para o alto você estará evitando eventuais acidentes, ao esbarrar inadvertidamente em outras pessoas. E a sua postura física não sofrerá tanto quanto ao tranportar o tripé apoiado transversalmente sobre um dos ombros.

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