Poeira Digital

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Saturday, October 28, 2006

Quanto maior... Melhor!
Protegendo o microfone contra o vento


O problema mais comum na captura do áudio em locação exterior é o indisfarçável ruído do vento golpeando o diafragma sensível da cápsula do microfone. O resultado desse contato é semelhante àquele ruído produzido quando assopramos diretamente dentro do microfone. Este ruído dificilmente poderá ser retirado durante a pós-produção do áudio. Teremos que conviver com ele, irritando-nos e frustrando as nossas expectativas, pois dificilmente os produtores de um filme irão retornar à uma locação, para repetir uma cena em que o áudio não esteja adequadamente limpo de ruídos durante a sua captação.
Em documentários esta contradição é permanente: não se pode obter a mesma intensidade de uma imagem original, ao refazer uma cena que ficou inaproveitável pela baixa qualidade do áudio. Isto porque no cinema documental há uma lei inflexível: uma imagem mal realizada, mas com um bom som - se pode usar a imagem. Ao contrário, uma boa imagem, mas com o áudio ruim - não se utiliza esta imagem.

A não ser, é claro, que ignoremos o som ambiente de uma cena, e a adornemos depois com música ou outro efeito sonoro. Mas o que fazer durante uma entrevista, onde as palavras são essenciais e condicionam a própria existência da imagem? Para reduzir o problema, os operadores de áudio contam com as cápsulas de proteção contra o vento (pop filters). Elas podem ser construídas como uma espécie de malha adaptada à cabeça de captação do microfone. A finalidade deste implemento é defender o microfone contra o contato do vento, criando um obstáculo ao "suspiro" natural, semelhante ao que produzimos com a nossa respiração. Este "suspiro" dá origem a uma espécie de "golpe" intermitente (popping), que a própria natureza material do ar cria ao se deslocar depois que é posto em movimento.

O que devemos observar sobre estes fenômenos (popping e o vento), é que embora haja certa similaridade, eles são fenômenos distintos nas suas causas e nos efeitos que produzem. Este é um detalhe muito importante para ser compreendido pelo nascente operador de áudio. A principal diferença é que é muito mais simples (embora não seja fácil), bloquear o efeito do popping do que obstacular o efeito do vento. A interferência produzida pelo popping geralmente pode ser esperada de um único ângulo. É o caso dos microfones de estúdio, que normalmente utilizam uma tela presa adiante da cápsula sensível, de modo a anular o popping produzido pelos lábios dos cantores. Um exemplo de microfone bem defendido contra o popping é o chamado lips microphone, que possui um suporte adiante da cápsula sensível, onde o locutor deve apoiar diretamente o lábio superior, para que o nível da locução fique absolutamente livre dos ruídos externos. Este microfone possui uma forte proteção contra o popping produzido a uma distância de poucos milímetros. É um microfone geralmente utilizado por locutores de news, quando devem produzir gravações de textos em situações extremas, como combates, demonstrações políticas ou esportes, onde há excessivo ruído interferindo na narração.O que é importante notar, é que a proteção é dada apenas a um dos lados do microfone. Portanto, um bom pop microphone jamais deverá ser empregado para captar áudio em situações às quais não estiver determinado.

Voltando às cápsulas de proteção contra o popping, elas também podem ser como um pequeno "cesto", onde um certo volume de ar deve permanecer estacionário, servindo de atenuador ao ar exterior em movimento (vento). Ela pode ser descrita como uma estrutura aberta semelhante a uma trama - que pode ser metálica ou de plástico - recoberta com camadas superpostas de espuma, algodão ou aglomerados industriais.

O desenho do protetor de vento em forma de "cesto" deve ser determinado por seu tamanho, sua forma e o material de que é feita a sua estrutura interna. O que é importante notar, é que quanto maior for, mais efetivo será o protetor. Entretanto, a dimensão do protetor depende das limitações impostas pela prática de sua aplicação. Ao mesmo tempo - e para complicar - a performance de um protetor de vento em forma de "cesto" vai sempre depender da severidade das condições atmosféricas, ou seja, a turbulência produzida pelo vento que dá origem ao pop wind. De qualquer forma, o controle sob condições naturais é mínimo durante uma cena. Isto é, a direção de onde a turbulência atinge o microfone raramente pode ser determinada com precisão, pois o operador também está quase sempre se movendo, e ao microfone, durante o acompanhamento de uma cena.

Nestas condições, o que podemos desejar é que a cobertura atenuadora dos impactos que atingem a cabeça sensível do microfone seja aerodinâmica isto é, que minimize ao máximo o impacto do vento sem adicionar mais turbulência ao redor do microfone. A forma ideal para isso ser obtido é a forma da esfera. Entretanto, a forma esférica nem sempre é apropriada para microfones com vários inlets, isto é, aberturas ao longo do tubo de captação, como nos microfones do tipo shotgun (chamados também de "direcionais"). Para microfones com esta característica, a forma apropriada é a cilíndrica. Por sorte, a forma cilíndrica apresenta a mesma eficiência que a esférica na atenuação do vento, sem produção de turbulência.

Uma proteção efetiva pode ser obtida com uma camada mais espessa de espuma de poliuretano. Este material é relativamente eficiente contra brizas ligeiras e intermitentes. Inclusive em interiores, o microfone sempre deve estar protegido contra a possibilidade de ser atingido por ar em movimento (vento). Nesta categoria devemos incluir o comum e corrente "ventinho encanado", a atingir-nos em corredores e salas com várias passagens (janelas e portas). Outra possibilidade é o vento produzido pelo ar-condicionado e pelo simples movimento do microfone. Movimentando o boom rapidamente para acompanhar o seu objeto de gravação, o operador pode inadvertidamente produzir um deslocamento de ar forte o suficiente para danificar o seu trabalho. Este detalhe - o do movimento brusco - apresenta outra razão para a grossa camada de espuma de proteção contra eventuais golpes e arranhões, além dos efeitos daninhos da poeira, que precisam ser minimizados durante a operação do microfone, principalmente em reportagens ou documentários.

Uma cobertura ideal de espuma de poliuretano deve apresentar uma porosidade de 50 a 80 poros por polegada. Espumas densas e sem porosidade não são indicadas. As cápsulas de espuma são mais baratas de produzir do que as cápsulas em forma de "cesto". E são também mais resistentes do que os delicados "cestos".

O que devemos considerar é que seja qual fora opção do operador de áudio, todas as cápsulas e espumas de proteção são empregadas para anular a turbulência produzida pelo impacto do vento na célula sensível do microfone. Porém devemos enfatizar que a espuma de poliuretano oferece proteção mínima contra o vento, principalmente vento no exterior. A espuma será útil apenas para microfones menos sensíveis, como os microfones mais comumente empregados em reportagens. Microfones amplamente sensíveis como o Sennheiser MKH 416, ou o MKH 816, definitivamente requerem um sistema de proteção que poderíamos chamar de "blimpado".

Diferentes companhias possuem seus próprios sistemas, registrados e patenteados. Light Wave oferece o sistema Superscreen, composto de um "zepelim" (wind shield), onde o microfone fica instalado e sobre o qual é estendida uma camada de feltro, acima do qual é posto o windmaster, que é uma peliça de 25mm de espessura, cuja principal vantagem é dispersar a turbulência do vento. O sistema é oferecido como proteção contra ventos acima de 40mph.

A Rycote tem um sistema que oferece atenuação do vento até 25 dB, graças um tipo de plástico flexível de que efeito o "zepelim". Sobre esta estrutura é posto o windjamer, feito de materiais semelhantes à peliça, atenuando o ruído do vento em até 10-12 dB.

O que devemos observar sobre o sistema tipo wind shield, é que a possibilidade de criar turbulência durante a operação (movimentos) do microfone é reduzida. É claro que devemos esperar que o operador de áudio saiba montar corretamente a estrutura para proteger o seu microfone. E que conheça também as características do equipamento que está utilizando.
Segundo o seu desenho, os microfones mostram dois grandes ramos: os microfones de pressão graduada, que decompõem a pressão sonora entre os seus inlets, que são as aberturas ao longo do comprimento do tubo (pipe) que recobre a cápsula sensível. A amplitude do som que atinge a lâmina (diafragma) da cápsula sensível é, portanto, "dividida".

Outro ramo é o dos microfones de pressão, que apresentam apenas uma entrada. Neste tipo de microfone, a lâmina (diafragma) da cápsula sensível é atingida diretamente pela amplitude total do som.

Estas são as duas grandes características que precisamos observar quando operamos o microfone no vento. Quanto à característica do transducer (o equipamento que troca uma informação - o som - por outra - o impulso elétrico), pouco importa se o microfone é dinâmico ou de condensador, diante da interferência do vento.

É de acordo com as características desses dois ramos de microfones que devemos selecionar a proteção contra o vento mais adequada:
Para os microfones de pressão graduada, devemos optar sempre por uma proteção do tipo "cesto" ou Wind screen, do qual o modelo "zepelim" é o mais arrojado. Este tipo de proteção tem a característica de "aprisionar" uma porção de ar estável ao redor das entradas (inlets) do microfone. Esta "bolha" de ar funciona como um atenuador para as freqüências baixas que produz a turbulência do ar em movimento (vento). Para os microfones de pressão, devemos procurar a proteção das cápsulas de espuma, que aderem justamente ao microfone, sem deixar espaço livre para o ar.

Para concluir, observamos que a captação com microfone não se restringe apenas em apontar o equipamento para uma fonte sonora, como fazemos com a objetiva de uma câmera. Ao contrário da câmera, que "olha" apenas para frente, os microfones captam tudo ao redor. Nisso, estão incluídas as condições atmosféricas e o movimento do ar. Sendo um operador observador, atento e cuidadoso, você encontrará as soluções que o seu equipamento necessita para um bom registro do áudio. Lembre sempre que tão importante quanto a proteção ideal contra o vento, também deve ser o correto posicionamento do microfone na cena.

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