Liberando o Platô
Uma equipe de filmagem normalmente ocupa muito espaço para executar o seu trabalho. Além da área destinada ao estacionamento dos veículos, geradores, caminhões de cenografia, até os trailers para os atores e para a equipe, ao próprio local onde as cenas devem ser realizadas, a área ocupada é sempre grande, interferindo profundamente na vida de uma comunidade ou lugar, que tenha sido escolhido para a locação de um filme.
Mesmo em uma pequena equipe, os espaços que normalmente você necessitará, inclui todo o ambiente ao redor do local onde se armou o equipamento para gravação de som e imagem. Mesmo que o número de participantes do seu filme sejam bem poucos, sempre haverá necessidade de alimentar e alojar as pessoas. Qualquer que seja a dimensão das cenas que você for filmar ou gravar, sempre haverá necessidade de entrar em contato com as autoridades encarregadas dos suprimentos de luz e força, fornecedores de alimentos e ajudantes para os trabalhos preparatórios. Se a locação se dá na própria cidade onde todos vivem, sem necessidade de deslocamentos, os requerimentos continuam: dependendo das áreas escolhidas, haverá necessidade de segurança e um número indeterminado de ajudantes, que podem ser encontrados nas próprias comunidades, ou nos bairros onde a ação será encenada.
Nesse sentido, torna-se crucial que durante as filmagens ou gravações de uma cena, toda a área escolhida para a encenação fique desimpedida de pessoas e veículos que normalmente poderiam transitar por ali. É quando aparece a necessidade do coordenador de platô e seus assistentes. Por "platô" entende-se o local exato onde uma cena vai ser executada. O platô é o local físico da encenação.
Cabe a coordenação do platô, a tarefa difícil de liberar uma dada área para a cena ser realizada. O que podemos supor ser um trabalho fácil, torna-se na, verdade, numa das mais penosas atividades de uma equipe de cinema.
A principal dificuldade para coordenar o platô, quando a cena se passa na rua de uma cidade, por exemplo, é manter afastadas as pessoas que normalmente são atraídas pelo fascínio que representa uma câmera. Sempre que uma câmera é armada, todos se julgam no direito de interromper com perguntas e requerimentos (fotos e pedidos de autógrafos, são os mais comuns), o trabalho dos profissionais. Talvez pelo coeficiente de emoções que a imagem cinematográfica normalmente produz, as pessoas sentem-se com total direito de interferir na rotina de uma equipe, como se fosse possível criar a ação e o drama por pura magia, sem necessidade de trabalho e muito suor.
Uma equipe de filmagem é normalmente vista como um grupo de pessoas que de alguma forma estão se divertindo na companhia de atores e atrizes famosos. Então, porque se preocupar? Assim, acham que não deve ser muito grave invadir o local da filmagem e interromper uma cena a todo momento. Um exemplo do que acontece, é quando um câmera está enfocando e gravando uma cena de rua, muitos transeuntes não conseguem evitar de acenar e fazer caretas para a câmera. Isto aconteceria inevitavelmente em todas as cenas gravadas na rua, se não fosse a presença do coordenador de platô.
A ele cabe normalmente dizer "não!", para todos os pedidos e ofertas que assediam uma equipe durante o trabalho. A ele cabe interromper o tráfego, porque a história não pede automóveis trafegando no local; ele deve impedir as pessoas de circular livremente, se a câmera aponta para a direção onde estão passando; ele deve ordenar "silêncio!", até para desconhecidos, se o operador de áudio necessita de silêncio absoluto. São inúmeros os requerimentos que a coordenação de platô atende.
Se você for indicado para esta função em uma equipe, além da paciência, deve-se agregar um alto grau de simpatia pessoal, capacidade de convencimento e, naturalmente, boa educação. Não podemos imaginar para esta função, um brutamontes com os nervos à flor da pele, ríspido e mal-humorado, desdenhoso e prepotente.
A simpatia no trato com as pessoas é o princípio fundamental do trabalho de coordenação de platô. Esta atitude principia entre os próprios membros da equipe. Pois, coordenar a presença de tantas pessoas no momento de uma cena: o fotógrafo e seus assistentes; o operador de áudio e seu assistente de boom; maquiadores, figurinistas, aderecistas, eletricistas, os operadores do dolly e da grua. Isto sem levar em conta o diretor, seus assistentes, continuistas, claquetista e os próprios atores.
Não podemos imaginar um bom clima de trabalho, se irrompesse no platô um sujeito aos gritos, ordenando silêncio! E liberando a área aos empurrões. A equipe normalmente reage positivamente quando o silêncio é requerido. Afinal, estão ali para trabalhar. E o contato diário entre todos, ameniza e facilita as dificuldades de comunicação e coordenação. Todos sabem o que fazer, e ninguém está desocupado. Entretanto, sabemos, que algumas pessoas são mais irrascíveis e teimosas do que outras, mesmo em uma equipe de cinema.
Mas é fora da equipe, em uma locação externa, que a tarefa do coordenador de platô torna-se difícil. Muitas vezes, a área da cena estende-se por muitas dezenas e até centenas de metros ao redor da câmera. Como impedir que curiosos surjam entre a vegetação, espiando quando a famosa atriz tira a roupa e entra nua no riacho?
Situações como esta exigem uma grande capacidade de convencimento, aliada à simpatia pessoal, para evitar o constrangimento generalizado de obter as condições ideais para a filmagem, unicamente por meio de pressão física, gritos ou muita correria. Uma população local que antipatize com a presença de uma equipe, gerando conflitos e mal-entendidos, pode inviabilizar o trabalho, comprometendo prazos e o orçamento do filme.
O coordenador de platô deve trabalhar intimamente unido à produção e à direção do filme. Ele precisa conhecer bem o plano de filmagem, para estabelecer as dificuldades que deva superar. Sempre que um novo local para as cenas for determinado, ele deve estar presente reconhecendo a área, vendo os pontos frágeis e as características que possam contribuir para uma eventual dificuldade na hora da filmagem ou gravação.
Ele deve estabelecer uma demarcação dos setores que serão utilizados para a equipe. Se possível, deve fazer um croqui para discutir com seus assistentes os pontos de ação e a coordenação de todos. Ele deve verificar todas as características da área e relacioná-las com as sequências de filmagem ou gravação. Assim, poderá antecipar as dificuldades e prever as soluções.
Quase sempre o coordenador de platô é o primeiro a chegar ao local da cena e o último a sair, depois do trabalho concluído. Por isso, não espere que o seu trabalho seja reconhecido. Ninguém se lembrará de agradecer por uma avenida movimentada que você liberou do tráfego, e por tal, a equipe pôde concluir o cronograma do dia. Mas vá se ausentar... Verá como jamais será perdoado.
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